quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ÉTICA CRISTÃ



1. Conceitos
 
1.1 Origem da palavra ética: vem do grego, ethos, que significa costume, disposição, hábito. No latim, vem de mos, com o significado de costume, uso, regra.
 
1.2 Definição: “A teoria da natureza do bem e como ele pode ser alcançado”. Mostra o que é bom, mau, certo ou errado; o que deve ou não deve ser feito.
Em resumo: “A Ética é a conduta ideal do indivíduo”.
 
1.3 Ética Cristã: podemos dizer que é o conjunto de regras de conduta, aceitas pelos cristão, tendo por fundamento a Palavra de Deus.
 
1.4 Ética Pastoral: é a parte da Ética Cristã, aplicada à conduta do ministro evangélico. Pode ser entendida, também, como Ética Ministerial.
 
2. ABORDAGENS ÉTICAS
 
2.1 Antinomismo. É a falta de normas. Tudo depende das pessoas, das circunstâncias. É subjetivista: cada um faz o que entende ser o melhor sob um ponto de vista (ver Jz 17.6; 21.25).
 
2.2 Generalismo. Aceita normas, mas elas não devem ser universais. Baseia-se no utilitarismo. As normas só têm valor, dependendo do resultado de sua aplicação. 
“Os fins justificam os meios”.
 
2.3 Situacionismo. É um meio-termo entre o Antinomismo e o Generalismo. O primeiro não tem regra nenhuma; o segundo tem regra pra tudo, mas não são universais. O situacionismo só tem uma regra: a do amor. Segundo eles, baseiam-se em Cristo, que resumiu a Lei (normas) numa palavra: amar a Deus e ao próximo (Mt 22.34-40). Mas admitem certas condutas discutíveis à luz da Bíblia. Ex. O adultério para salvar a família da fome.
 
3. Ética Cristã.
 
3.1 Sua Base. As diversas visões filosóficas da ética podem confundir. Entretanto, o cristão deve basear-se na Palavra de Deus para fazer o que é certo e deixar o que é errado. É a nossa regra de fé e prática. É o código de regra do Cristão, especialmente do pastor ou ministro do evangelho. A ética cristã não depende da situação, dos meios ou dos fins (ler Sl 119.105).
 
3.2 A Ética nos Evangelhos. No Sermão da Montanha, encontramos as REGRAS BÁSICAS do Reino de Deus, trazidas por Jesus Cristo. A Ética do Sermão do Monte e das demais partes do evangelho é tão elevada, que nem mesmo a maioria dos cristãos a têm levado à prática.
Exemplos:
- A justiça do cristão deve exceder a dos escribas e fariseus (Mt 5.20);
- Quem somente olhar para uma mulher, pensando em adulterar com ela, já adulterou (Mt 5.28).
- Só é permitido o divórcio se o cônjuge praticar infidelidade. Outro motivo não tem respaldo nas normas de Cristo (Mt 5.32;19.9);
- O falar deve ser sim, sim; não, não. O que disso passa é de procedência maligna (Mt 5.37);
- O certo é amar os inimigos, bendizer os que nos maldizem, fazer bem aos que nos odeiam e orar pelos que nos maltratam (Mt 5.44);
- Cristo manda que sejamos perfeitos como é nosso Pai que está nos céus (Mt 5.48);
- Não se deve julgar os outros (Mt 7.1);
- Só devemos fazer aos homens o que queremos que eles nos façam (Mt 7.12);
- Se o irmão pecar contra nós, devemos perdoar sempre – até 70 x 7 (Mt 18.22);
- É para dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22.21);
- Quando o cristão der um banquete (casamento, festa de 15 anos, etc.) não deve convidar os amigos, os irmãos, os parentes, os vizinhos ricos, mas “os pobres, os mancos e cegos”(Lc 14.12-13).
 
3.3 A Ética nas Epistolas
 
1) Fazer tudo para a glória de Deus (1 Co 10.31);
2) Fazer tudo em nome de Jesus, dando graças a Deus (Cl 3.17);
3) Fazer de todo o coração, como ao Senhor (Cl 3.23);
4) Fazer o que é lícito e conveniente diante de Deus (1 Co 10.23);
5) Não dar escândalo ao mais fraco (1 Co 8.9-13);
6) Não fazer nada em caso de dúvida (Rm 14.23);
7) Lembrar que vamos dar contas a Deus de todas as nossas obras (Rm 14.11,12; Ec 11.9).
8) Evitar a aparência do mal (1 Ts 5.22).
 
4. Questões éticas à luz da Bíblia
 
Daremos, aqui, uma síntese de algumas questões éticas, com algumas respostas indicadas por certas correntes de pensamento.
 
4.1 O Cristão e a Guerra.
 
É certo um crente, militar, ir a guerra e, ali, tirar a vida de seus semelhantes, por ordem do governo de seu país? Ou, na guerra do dia-a-dia, um policial crente atirar num bandido que lhe ameaça a vida?
 
1) O Ativismo diz que sim. Usam o argumento bíblico de que o governo é ordenado por Deus. No VT, Deus usou a guerra para destruir povos ímpios. No Novo Testamento, Jesus manda dar a “César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21); Paulo diz que as autoridades são dadas por Deus e devem ser obedecidas (Rm 13.1-7).
 
 
2) O Pacifismo diz que não. Também usam a Bíblia que diz: “não matarás (Êx 20.13). A guerra, dizem, é um assassinato em massa. Jesus mandou amar os inimigos, e não matá-los (Mt 5.44). Jesus mandou Pedro guardar a espada (Mt 26.52).
 
3) O seletivismo diz que é certo participar de algumas guerras. Resume os argumentos anteriores, usando, também, a Bíblia. Para eles, nem sempre se deve obedecer o governo. Ex. Os três hebreus (Dn 3), Daniel (Dn 6), que não obedeceram ao rei. Os apóstolos desobedeceram a ordem de não pregar (At 4 e 5). Assim, se uma guerra não é justificada, não se deve aceitá-la; entretanto, há guerras justificáveis. Deus mandou destruir nações ímpias (Js 10.40; 20.16,17). Nações más devem ser destruídas por ordem de Deus.
 
4) O hierarquismo: reconhece que o governo é dado por Deus, mas não está acima de Deus (1 Pe 2.13). Entre “César” e Deus, o cristão fica com Deus. Assim, se a razão maior para a punição de um ditador, de um governante assassino, a guerra é justificável. Ex. O caso de Hitler, que foi combatido na segunda guerra mundial.
 
4.2 O cristão e a responsabilidade social.
Biblicamente, todo cristão tem responsabilidade social. Caim não cuidou disso. A lei áurea indica isso (Mt 7.12). O Bom Samaritano (Lc 10.30) demonstra essa responsabilidade. O cristão deve atender:
a) as suas necessidades (Ef 5.29);
b) as de sua família (1 Tm 5.8,16);
c) as dos outros irmãos (Gl 6.10; Tg 2.15,16). É preciso provar o amor (1 Jo 4.20; At 6.1).
d) responsabilidade por todos os homens: pelos pobres (Mt 26.11; 25.40); pelos oprimidos (Ez 18.5-9); perante os governos (Rm 13.7). Diante disso, o cristão deve fazer o bem sem que prejudique a si mesmo. Ex. emprestar dinheiro e prejudicar sua família; ajudar os outros deixando sua família em dificuldade. Isso não é certo, (1Tm 5.8); ganhar outros e perder sua família, como tem acontecido com muitos obreiros (1 Tm 5.8).
 
4.3 O cristão e o sexo.
Foi Deus quem criou o sexo. Tudo que Ele fez é bom (Gn 1.31). O sexo em si não é mal.
 
1) O sexo no casamento. Deus fez o sexo (o ato sexual) para ser desfrutado no âmbito exclusivo do matrimônio (Gn 2.18,24). O matrimônio deve ser venerado e a prostituição condenada (Hb 13.4).
 
2) O sexo fora do casamento. A prática sexual é sempre pecaminosa: fornicação, entre solteiros (Ef 5.5a; 1 Tm 1.10a; Ap 21.8a); adultério envolvendo pessoa casada (Mt 5.27; Mc 10.9; Rm 13.9); é prostituição (Dt 23.17; 1 Co 6.16); homossexualismo masculino e feminino: é abominação ao Senhor (Lv 20.13; Dt 23.17,18; 1 Co 6.9,10; Rm 1. 24-27).
 
3) A poligamia.
 
Não fez nem faz parte do plano de Deus. No Velho Testamento Ele permitiu ou tolerou, mas nunca aprovou. A monogamia é que é certo. A poligamia é errada. Como Deus permitiu no Velho Testamento, hoje, também, cremos que Ele permite no caso dos países em que a mulher ficando solteira tende a ser prostituída, como em alguns lugares da África e da Ásia, onde as meninas já são dadas em casamentos a homens desde pequenas. Ali, elas são esposas e não prostitutas. Não é norma, mas exceção. O cristão não se guia por exceções. Cabe a Deus julgá-las.
 
4) A masturbação.
 
Há ensinadores que dizem que não é pecado de forma alguma. Outros, dizem que é totalmente pecado. Outros, ainda, dizem, se não for por vício, mas por necessidade, torna-se moralmente justificável. De qualquer forma, é pecado, por contrariar os planos de Deus, pois o sexo não deve ser egoísta mas compartilhado com outra pessoa no âmbito do casamento; contudo, não podemos dizer que é o mesmo que adultério,
prostituição etc.
 
4.4 O cristão e o controle da natalidade (o planejamento familiar)
 
Deus disse: “crescei e multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 1.28). Mas Deus não deu um multiplicador. Logo, ter um filho ou dois já é multiplicação. No VT não ter filhos era constrangedor (1 Sm 20).
 
No Novo Testamento não há referência expressa a ter ou não ter muitos filhos. Mas os filhos são galardão do Senhor (Sl 127.3). Para ter filhos, cremos que o casal deve orar muito, para que nasçam debaixo da bênção de Deus. E, para não tê-los, deve orar muito mais, para não contrariar a vontade de Deus.
 
Devem ser considerados os fatores saúde, alimentação, educação (espiritual e secular), pois não é justo que se tragam filhos ao mundo para vê-los subnutridos, mal-educados. Isso não é amor.
 
A limitação de filhos por vaidade é pecado, mas por necessidade, como no caso de doença da mãe, que lhe cause risco de vida cremos ser moralmente justificável; mas isso depende da consciência de cada um diante de Deus, pois o que não é de fé é pecado (Rm 14.23).
 
4.5 O cristão e o aborto
 
A vida foi criada por Deus (Gn 1.27,28). A vida foi dada por Deus (At 17.26). Por isso, somente Deus pode tirá-la. A concepção de um ser humano é algo “terrível e maravilhoso” (Sl 139.14). Deus escolhe pessoas desde o ventre (Ex. Is 49.1; Jr 1.5; Lc 1.15; 1.31-35). Se uma mãe comete aborto, como fica o plano de Deus? Há abortos que não são pecados: natural, quando por doença, morte do feto; acidental, resultante de fatores como susto, queda, acidente etc; aborto terapêutico: para salvar a vida da mãe. Mas há abortos pecaminosos: por razões egoístas; por razões eugênicas (para evitar nascer um filho com defeito); o aborto provocado é um crime, é covardia (a vítima não pode defender-se).
 
4.6 O cristão e a eutanásia
 
Eutanásia quer dizer “boa morte”. Refere-se a tirar a vida de um doente terminal, que sofre muito, não tendo mais solução evitando prolongar sua dor, desligando aparelhos, aplicando injeção letal, etc. é certo para o cristão? A Bíblia diz: “não matarás”.
Há quem diga que deixar “morrer misericordiosamente” (Geisler) não é o mesmo que “matar misericordiosamente”. É um dilema para o cristão, pois cremos que sempre há possibilidade de que faça um milagre, mesmo no instante final e, até mesmo ressuscitar um morto. Cremos não é correto tirar a vida de ninguém que está doente, mas deve-se envidar todo esforço na tentativa de sua cura, seja por medicamentos, seja pela oração da fé (Tg 5.15,16).
 
4.7 O cristão e o suicídio
 
Há suicídio por si mesmo (egoísta) e o suicídio pelos outros (altruísta). De qualquer forma, é a destruição da vida. Só Deus pode tirá-la, pois só Ele a deu.
 
A pessoa que deve amar a si mesmo como os outros (Mt 22.39; cf. Ef 5.29).
 
Há quem cite o caso de Sansão (Jz 16.30) como exemplo e suicídio aprovado por Deus. Não vemos assim. Há casos em que uma pessoa morre, sacrificando-se por outra ou por outras. Um bombeiro entra no fogo e salva várias pessoas, mas ele morre; um soldado lança-se sobre uma granada, impedindo que muitos companheiros pereçam. I
 
sso não é suicídio. É sacrifício.
 
4.8 O cristão e a doação de órgãos humanos
 
A lei do país diz que, se a pessoa não declarar em documento, seus órgãos podem ser retirados para salvar vidas de pessoas doentes. Como o cristão deve ver isso? Há quem diga que não deve aceitar. Há quem diga que não há problema.
 
O problema é que o cristão crê em milagre. Se um parente sofre acidente, entra em “morte cerebral”, e o enfermeiro tirar seus órgãos, não estará impedindo a possibilidade do milagre? E na ressurreição, como ficam os órgãos?
Entendemos que doar órgão é um ato de amor. E deve ser voluntário. A lei é de certa forma autoritária. Se o cristão doar seus órgãos não peca. Se não quiser doar, também não peca. Na ressurreição, não há problema, pois ressuscitaremos em “corpo glorioso”(Fp 3.21), “corpo espiritual” (1 Co 15.42,43), que não precisará de órgãos “físicos”, ainda que será o corpo sepultado que vai ressuscitar, transformado, em corpo glorioso.
 
4.9 O cristão e a pena de morte
 
No Antigo Testamento, a pena de morte era determinada por Deus (Gn 9.6; Êx 21.25; Lv 20.10). No Novo Testamento, vemos Ananias e Safira passando pela pena de morte (At 5.3). Vemos em Rm 13.1-2, que a autoridade tem o direito de trazer “a espada”, mas tudo sob a égide da autoridade dada por Deus e não por leis humanas, que são falhas. A justiça humana é falha. Há os “erros judiciários”, em que um inocente foi morto em lugar do culpado. Há as perseguições políticas, os abusos da autoridade. Assim, cremos que o cristão não deve ser favorável à pena capital, mas à prisão perpétua, em casos de crimes hediondos.
 
4.10 O cristão e a mentira
 
Geisler conta o caso do capitão Bucher, que, tendo seu navio atacado por piratas, estes o obrigaram a fazer certas confissões que não eram verdadeiras, sob pena de matar toda a tripulação. O capitão aceitou e a tripulação foi salva. Ele mentiu? Errou? Ou não?
As parteiras hebréias mentiram a Faraó, quando este mandou que elas matassem todo o varão hebreu, e Deus as abençoou por isso (Êx 1.15-21). Elas erraram? Raabe contou uma mentira para salvar os espias de Israel (Js 2.1-6). E Deus a abençoou. Nesse casos, cremos que não houve a mentira no sentido comum, de prejudicar alguém, mas “omissão da verdade” em prol de uma causa maior.

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