segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

PRÁTICA DA LEITURA DA BÍBLIA



A prática da leitura da Palavra de Deus é a arte de procurar o Senhor nas páginas das Sagradas Escrituras até achar. É a arte de enxergar toda a riqueza que está por trás da mera letra, de ouvir a voz de Deus, de relacionar texto com texto e de sugar todo o leite contido na Palavra revelada e escrita, tanto nas passagens mais claras como nas passagens aparentemente menos atraentes, mediante uma leitura responsável e o auxílio do Espírito Santo. ABíblia é a Palavra de Deus. Isso quer dizer muita coisa.

Significa que ela encerra a auto revelação de Deus e expressa toda a sua vontade em matéria de fé e conduta.

Significa ainda que você não se encontra desesperadamente em estado de absoluta desinformação quanto a Deus, quanto à vida e quanto à eternidade. Você tem em sua própria língua um livro que revela todo o programa de Deus, uma espécie de enciclopédia que fornece toda sorte de informação teológica necessária, um manual de avaliação que mostra a diferença entre o certo e o errado. Além de inspirada por Deus, toda Escritura é extremamente útil (2 Tm 3.16).

Ela fornece alimento para o espírito: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4, citando Dt 8.3). Ela gera conhecimento, fé, convicção e esperança. Ela promove comunhão com Deus e comunhão com os homens. Ela produz conforto em meio a lágrimas e angústias. Ela repreende e corrige, “a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.17). Ela serve de ponto de apoio em situações adversas: “Sobre a tua palavra lançarei as redes” (Lc 5.5). Ela exerce influência poderosa nas tomadas de decisão. Ela cria uma mentalidade religiosa. Ela se acomoda nos porões do subconsciente e forma uma bagagem de valor inestimável, que aflora naturalmente nos momentos mais necessários.

INGESTÃO

Contudo, para que esse enorme volume de riqueza se torne seu, é necessário “comer” a Palavra de Deus, à semelhança de Ezequiel, que encheu as suas entranhas do rolo de um livro (Ez 2.8-3.3). Basta comer. O resto é com Deus. A ingestão da Sagrada Escritura depende de você. Trata-se de um exercício voluntário, consciente e pessoal. Faz-se isso por meio da leitura cuidadosa e regular da Palavra. A leitura formal, superficial, ocasional, desordenada ou supersticiosa rende muito pouco ou nada. Bem como a leitura feita para satisfazer apenas o intelecto. O Senhor diz: “Abre bem a tua boca e a encherei” (Sl 81.10). Você precisa aprender a arte de “abrir a boca” para meter a Palavra de Deus dentro do espírito.

DIGESTÃO

Diferente da ingestão, a digestão é a assimilação da Sagrada Escritura em seu interior. O processo é inconsciente, automático e irreversível. Uma vez ingerida, a Palavra que sai da boca de Deus é como a chuva e a neve que descem dos céus “e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come”. A Palavra de Deus não volta para Ele vazia, mas fará o que lhe apraz, e prosperará naquilo para que Ele a designou (Is 55.10, 11). Você não pode perder a noção e a certeza de que “a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). Em outras palavras, uma vez corretamente lida, a Escritura Sagrada provoca uma revolução dentro de você, desce aos lugares mais profundos, mexe em tudo. Essas coisas acontecem por causa do valor intrínseco da Palavra e por causa da operação do Espírito Santo.

METODOLOGIA

Para ser altamente proveitosa, a prática da leitura da Palavra de Deus depende da qualidade do empreendimento, que se consegue depois das seguintes providências:

1. Ler.
 Percorra com a vista o que está escrito, proferindo ou não as palavras. Tome conhecimento do texto: “Buscai no livro do Senhor, e lede” (Is 34.16). O rei de Israel deveria escrever um tratado da lei do Senhor para ler todos os dias da sua vida (Dt 17.18-20).

2. Meditar.
Meditar é mais do que ler. Examine o texto lido. Reflita sobre ele. Gaste algum tempo para ficar por dentro da mensagem que o texto encerra. Veja a disposição do salmista: “Os meus olhos antecipam as vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas palavras” (Sl 119.148). Só neste Salmo, o verbo meditar aparece seis vezes. Aquele que medita na lei do Senhor de dia e de noite “é como árvore plantada junto a corrente de águas” (Sl 1.3).

3. Memorizar.
Meta na cabeça o que você leu e meditou. Entregue-o à memória, retenha-o, não o deixe escapar. Decore, se não as palavras, pelo menos a mensagem do texto lido. Guarde-a na despensa interior. Veja o propósito do salmista: “Induzo o coração a guardar os teus decretos, para sempre, até ao fim” (Sl 119.112). Para precaver-se do pecado, o jovem deve conservar dentro de si os mandamentos de Deus e escrevê-los na tábua de seu coração (Pv 7.1-3).

4. Inculcar.
Enfie bem para dentro a Palavra de Deus. Coloque-a nas entranhas, “no mais íntimo do teu coração” (Pv 4.21). Torne-a propriedade pessoal. Provoque uma impregnação da Sagrada Escritura em todo o seu ser. Era isto que Israel tinha de fazer com as crianças: “Estas palavras que hoje te ordeno [...] tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te” (Dt 6.6-9).

5. Conferir.
Compare texto com texto. Não só para descobrir o sentido exato da passagem lida, mas também para enriquecer o seu conhecimento de toda a Escritura, consultando outras passagens paralelas. Por exemplo, digamos que você esteja lendo a Epístola de Paulo a Tito e encontre a frase: “Estas coisas são excelentes e proveitosas” (Tt 3.8). A partir daí você pode descobrir várias coisas excelentes ao correr da Bíblia: o mais excelente nome (Hb 1.4), o mais excelente sacrifício (Hb 11.4), o mais excelente óleo (Am 6.6), o mais excelente caminho (1 Co 12.31), a excelência do episcopado (1 Tm 3.1), o espírito excelente de Daniel (Dn 5.12) e a menção a Rúben, “o mais excelente em altivez, e o mais excelente em poder”, contudo “impetuoso como a água” (Gn 49.3-4). Ora, esse esforço é altamente compensador. Esclarece, edifica, enriquece e lhe dá uma visão global das Escrituras.

6. Lembrar.
Aprenda a fazer uso prático do que foi guardado na memória e nas entranhas. Retire do computador o que já foi digitado, retire do banco o que já foi depositado, retire da despensa o que já foi armazenado, e sirva-se à vontade. Você nunca vai ficar na mão, sem assistência, sem tratamento, sem pão. É só lembrar e aplicar. É nesse sentido que Jesus disse: “Lembrai-vos da mulher de Ló” (Lc 17.32). Fez muito bem a Pedro lembrar-se de que Jesus lhe dissera: “Hoje três vezes me negarás, antes de cantar o galo” (Lc 22.61).

SUGESTÕES

Por causa do temperamento, do estilo pessoal de ler e de estudar e da disponibilidade de tempo, cada um deve descobrir e adotar a maneira própria mais indicada de ler a Bíblia.
Os métodos alheios servem apenas de exemplos. Todavia, considere mais estas sugestões:

1. Reserve a hora mais propícia do dia para ler a Bíblia.
Isso varia muito de pessoa para pessoa. Seja exigente nesse sentido e evite a hora menos propícia.

2. A preocupação maior deve ser com a qualidade da leitura, e não com a quantidade. Você não precisa ler a Bíblia durante o ano, mas precisa ler a Bíblia com proveito o ano inteiro.

3. Procure ler toda a Bíblia — não necessariamente de Gênesis a Apocalipse. Leia grupos de livros: os livros poéticos, as Cartas de Paulo, os profetas menores, o Pentateuco, os quatro Evangelhos, os livros históricos e assim por diante. Para seu controle pessoal, marque a data do início e do final da leitura de cada livro.

4. Sublinhe o que você achar mais interessante. Faça pequenas notas às margens ou em um bloco à parte. Por uma questão de ordem, é bom numerá-las. Uma numeração para cada livro lido. O esforço de escrever as notas torna a leitura e a meditação mais sérias e ajuda a memorizar as lições aprendidas.

5. Use a Concordância Bíblica da Sociedade Bíblica do Brasil, baseada na Edição Revista e Atualizada no Brasil da Tradução de João Ferreira de Almeida, para conferir escritura com  escritura.

6. Havendo tempo, quando necessário, consulte outras versões em português (ou outras línguas) e a paráfrase A Bíblia Viva, para entender melhor o texto e fugir da rotina de uma mesma tradução a vida inteira. Além da tradução de Almeida, a mais usada, você pode recorrer às antigas traduções de Figueiredo e Versão Brasileira e à mais recente, A Bíblia na Linguagem de Hoje.

7. Só consulte as notas de rodapé, comentários e dicionários bíblicos depois do esforço próprio de entender o texto. Evite a preguiça mental.

8. Peça sempre o auxílio do Espírito Santo para entender as Escrituras e se beneficiar delas, seja por meio de uma pequena oração ou por meio de uma atitude de dependência e humildade. É o Espírito quem levanta o véu e deixa você ver a riqueza toda que está por trás da mera letra.

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