domingo, 24 de fevereiro de 2013

Vós sois meus amigos

Vós sois meus amigos Conhecemos um provérbio bíblico que diz: "há amigo mais chegado que um irmão" (Pr 18.24). Tal afirmativa propõe que a amizade é um relacionamento que transcende as relações de parentesco. Ser amigo ou amiga significa um respeito mútuo, no qual não há nenhum sentimento de exploração do outro ou da outra, mas sim, o desejo de promoção. Na amizade, as relações mútuas de confiança geram apoios recíprocos em prol da qualidade de vida mental, social e espiritual. A amizade produz ambiente propício para confissões, aconselhamentos e confiança sem fronteiras. O Evangelho, em sua multiforme graça, propõe que a relação do crente com a pessoa de Jesus Cristo deve ser estabelecida sob o vínculo da amizade. Sabemos que Jesus Cristo é Redentor, Salvador, Filho de Deus, Senhor, Rei e Sacerdote. No entanto, para que as relações se tornem eternas a proposta de Cristo para nós é a da amizade. E este que se oferece como amigo é um profundo conhecedor do mundo, do universo, da vida e da morte. Quem conhece aconselha. Quem não conhece escuta. Assim, Jesus sabe que nós não conhecemos quase nada sobre a eternidade. A Sociologia e a Psicologia, como ciências humanas, procuram pesquisar o comportamento do ser humano, sua vida íntima e em sociedade, os frutos que produzem a cultura e a cultura que serve ao indivíduo como fonte de prazer e conhecimento. No entanto, há muitos mistérios que envolvem o ser humano sobre a terra e que, infelizmente, produzem guerras e mortes. No texto de João 15, Jesus Cristo se apresenta como profundo conhecedor do ser humano e das conseqüências de suas ações sobre si e sobre o mundo em que vive. Por isso, o Mestre insiste que a amizade com ele e a dádiva do seu conhecimento requerem, como sinal de prosperidade e de vida, um relacionamento de profunda cordialidade, sinceridade e confiança. "Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim". (Jo 15.4). Lamentavelmente, nos dias de hoje, há muita religiosidade "cristã" e pouca amizade com Jesus, produzindo-se, dessa forma, frutos que não permanecem, ou seja, fragilidade na formação de caráter cristão. A declaração forte e enfática: "Vós sois meus amigos se fazeis o que eu vos mando" nos faz lembrar que, no tempo de Jesus, a religiosidade do povo consistia em cerimoniais vazios de significado, que geravam mais morte do que vida. Jesus mesmo afirma: "ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito, e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós" (Mt 23.15). Portanto, há um paralelo muito próximo entre os dias de Jesus e os nossos. Carecemos da amizade de Jesus Cristo para que se criem relações corretas com o nosso próximo. A promiscuidade e a malícia estão tão presentes nos meios de comunicação, e sua força é tão marcante, que esses desvios de caráter têm abortado boas amizades e servido de estímulo para o aumento da violência. O tecnicismo é uma das expressões da violência que mais tem crescido no processo da globalização das nações. Em decorrência da substituição de mão-de-obra humana pela robótica, são gerados sentimentos de inutilidade e incompetência, com o aumento dos excluídos e excluídas. Como parte do processo desagregador, a violência urbana estimula desconfianças e gera medo, alcançando níveis insuportáveis. Muitos têm recorrido às ofertas de "massagens" para eliminação do "stress", que não são suficientes para reanimar as pessoas. Pelo contrário, esta tem se tornando uma prática que mais explora a sensitividade humana, por meio de um comércio que frustra os incautos, esfriando ainda mais as relações. A polêmica doutrinária e teológica tem sido um outro vetor da violência, seja na conotação do consumismo religioso, seja na declaração da denúncia social. A pastoral da consolação, sendo frágil, provoca prejuízos enormes ao desenvolvimento da aproximação correta entre as pessoas. Pela ministração do Espírito Santo, nos tornamos discípulos e discípulas de Jesus Cristo (At 1.8). Tal poder espiritual é o que nos capacita a aprofundar, dia a dia, uma relação de respeito, reconhecimento e confiança nos conselhos do amigo Jesus, para suportar as diferenças de personalidades e costumes e trabalhar, em meio a tantos contrastes, uma boa relação até com os que são "tidos como inimigos". Quero propor aos leitores e leitoras o desenvolvimento de fé na qual a amizade seja o elemento forte nas relações com Jesus Cristo. Sua presença diária, ele já nos garantiu: "estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos". João Wesley, antes de morrer, pôde dizer: "o melhor de tudo é que Deus está conosco". Como fruto desse relacionamento, poderemos provar que realmente Jesus Cristo ressuscitou e tal prova nos ajuda a crer na vida eterna, transformadora da presente vida. Que possamos ser benção ao próximo em todo o tempo e, com certeza, boas amizades se farão aqui e por toda a eternidade.

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